No fim, eis que a vida recomeça.
Comecei o dia com a morte cravada no estômago e senti todos os sentimentos do mundo. As mágoas almofadaram-me o espírito e amortecem o teu esgar, sempre a evitar-me, não podendo enfrentar-me. Não te vou dizer mais nada. Movi a rainha no tabuleiro, o jogo está do teu lado.
Nada faz sentido. Os teus actos desconectam-se das palavras, és dois. O que amo e o que nunca conheci. E, no fundo, sei que és parte do meu processo lento, desta estrada, deste ano duro como pedras. Estou estripada, extirpada mas mais cheia de vida do que nunca. Tu és a minha catapulta, atiras-me para longe de ti, em cheio na vida. Ergo-me na praia e banho-me no mar morno.
Arrastam-se estrelas no firmamento. Pergunto-me se me caberiam todas no coração sem que explodisse. Provavelmente sim, dado que ainda bate após o amor. Sinto sem limites e sofro pelo pudor de falar. Ironia. As palavras são a minha paixão e não consigo encontrar nenhumas em que caiba o que me vai na alma.
Hoje calcei luvas de látex e peguei no bisturi depois de colocar os óculos bem na ponta do nariz. Talvez até tenha erguido o dedo mindinho uma ou duas vezes. Resultou e divergi. Não te compreendo mas compreendo e aceito o que queres. Elegância não é ser notado, mas sim relembrado.